...Quando cheguei ao meu
apartamento havia um bilhete com essas palavras...
“.A noite
traz as angústias, os medos, à lágrima impedida de cair durante todo dia...”
Era um bilhete de Ana Maria, uma linda garota que conheci num desses barzinhos
de finais de semana. Uma morena linda de cabelos negros. Ela estava com uns
amigos com camisas de partidos políticos, logo imaginei que ela também deveria
ser militante. Geralmente não me aproximo dessa galera por diversos motivos que
não vem ao caso, mais dela me afeiçoei, tinha um lindo olhar misterioso.
Trocamos olhares e em pouco
tempo já estávamos conversando no balcão sobre diversos assuntos, de fato a sua
beleza me chamou a atenção, seus olhos, tinham uma tristeza bonita e leve, nos
beijamos, trocamos telefones e levei – a até o carro que ela iria embora,
fiquei um pouco mais no bar para comemorar afinal, era uma noite vitoriosa...
Mal havia chegado a casa meu
telefone tocou. Era Ana Maria, me ligando para conversar e dizendo que não
conseguia me tirar da cabeça, conversamos por alguns minutos e marcamos para
jantarmos no dia seguinte.
Cheguei primeiro e pedir uma
garrafa de vinho, depois de uns 20 minutos ela chegou e estava linda, com um
vestido branco, conversamos e ficamos trocando elogios ela me falou sobre a
vida dela e sobre algo de ainda ter esperança e eu falei um pouco sobre minha
descrença na humanidade. Acredito que ela não se interessou na conversa, ela
estava com outros objetivos...fomos para o meu apartamento como sempre estava
extremamente desorganizado , com inúmeros livros em diversas partes da casa.
Logo de cara ela ficou admirada com a quantidade e diversidade de livros,
perguntou se eu havia lido todos aqueles
livros e
foliou alguns. Coloquei no som, a velha e confortável Janis e ficamos
ali namorando curtindo o clima havias algumas latinhas de cerveja boa e gelada,
na verdade em meu apartamento sempre há cerveja para os momentos bons e momentos
difíceis, o clima estava perfeito, a cerveja ajudou a lubrificar as idéias e o
papo fluiu... Fomos para o quarto e transamos a noite toda ao som da Janis...
O sol era forte, ele sempre
é forte nessa cidade, seja inverno ou verão , era um sábado e não fui
trabalhar, o telefone estava tocando o que me fez despertar de um sono calmo e
tranqüilo. Acordei me lembrando da noite e logo percebe que Ana Maria não
estava na cama, do lado da cama havia um bilhete que dizia:
_ Bom dia! Ontem foi uma
noite maravilhosa, mais tarde te ligo. P S: peguei um livro emprestado
seu. Ass. Ana.
O telefone ainda tocava levantei e quando fui
pega-lo já havia desligado.
O dia havia chegado à metade
e no começo da tarde, meu celular toca e é ela Ana Maria , perguntando com foi
o dia e me contando sobre o seu, perguntei qual foi o livro que ela havia pego
e ela disse Desobediência Civil –Henry David Thoreau, eu disse : tudo ok!
Contanto que depois poderíamos conversar sobre o livro ...
O relacionamento foi
caminhando, visitei a casa dela algumas vezes e ela continuava a pegar meus
livros, já tínhamos Seis meses juntos, entre idas e vindas e livros
emprestados.
Percebe que Ana já não ia
para as reuniões do partido político do qual ela fazia parte, começava a fazer
algumas criticas mais duras e pediu para sair do cargo que ocupava. Agora a sua
prioridade era sempre os livros e mais livros, passou a admirar Shoupenhauer,
Kafka, Camus etc...
Seus amigos já estavam
bastante preocupados, pois ela tinha pouco contato n com eles, já os chamavam
de tolos e perdidos. Nossos diálogos estavam ficando muito mais elaborados e
ela continuava muito boa na cama tínhamos um bom entrosamento. Eu não me
interferia naquela mudança que ela estava passando, apenas observava e sempre
que ela pedia alguma orientação eu a dava mais com bastante receio e prudência.
Ela gostava bastante de um escritor americano chamado Charles Bukowisky que
particularmente eu admirava bastante pela sua acidez verdade e vida.
Ela que antes escrevia
textos de cunho políticos, agora vive escrevendo contos existencialistas e que retratam as diversas
peculiaridades que estão nas nossas vidas.
Numa bela manha de inverno,
como sempre acordo e encontro este bilhete juntamente com a chaves e alguns livros que ela havia pego em minha
mão. O texto dizia mais ou menos assim:
Meu Querido e amado Artur
“A noite
traz as angústias, os medos, à lágrima impedida de cair durante todos os dias...
O ser humano é frágil, fraco, submetido e como sempre nós tolos, temos a mania de grandeza, acreditando
piamente que somos um pouquinho mais daquilo que imaginamos. Na verdade meu
caro amado somos obrigados cotidianamente a sermos forte, aparentemente,
fortes. Temos sempre que sorrir, demonstrar felicidade como vermes na carniça.
Temos regras, milimetricamente calculadas, programadas. Não pretendo passar o resto de minha vida
acreditando que sou um mero joguete da vontade ...
Escrita de dor de sangue de verdade e vida, a vida de todo dia, do catador de
latinhas, do limpador de latrinas, do gerente de um banco, Eu, Você ... todos
vivendo atolados até o pescoço numa
privada e acreditando num por vir melhor....
Um dia
ainda fujo, mudo de nome e escrevo a minha historia com o meu lápis.
Obrigado
por tudo que me fez (e olha que você não tem idéia de o quanto), sou muito
medrosa para te dizer adeus e tola demais por não te beijar pelo menos uma
única vez. “
A pessoa que sempre te
amará... Ana Maria!
Li a carta, Por um momento
vacilei e quis chorar, entendi o que estava acontecendo e excluir ela de meus
contatos.
Enzo de marco