sexta-feira, 15 de agosto de 2014

O bilhete do verdadeiro amor ou culpado de mim mesmo.


...Quando cheguei ao meu apartamento havia um bilhete com essas palavras...
“.A noite traz as angústias, os medos, à lágrima impedida de cair durante todo dia...”
Era um bilhete de Ana Maria, uma linda garota que conheci num desses barzinhos de finais de semana. Uma morena linda de cabelos negros. Ela estava com uns amigos com camisas de partidos políticos, logo imaginei que ela também deveria ser militante. Geralmente não me aproximo dessa galera por diversos motivos que não vem ao caso, mais dela me afeiçoei, tinha um lindo olhar misterioso.
Trocamos olhares e em pouco tempo já estávamos conversando no balcão sobre diversos assuntos, de fato a sua beleza me chamou a atenção, seus olhos, tinham uma tristeza bonita e leve, nos beijamos, trocamos telefones e levei – a até o carro que ela iria embora, fiquei um pouco mais no bar para comemorar afinal, era uma noite vitoriosa...
Mal havia chegado a casa meu telefone tocou. Era Ana Maria, me ligando para conversar e dizendo que não conseguia me tirar da cabeça, conversamos por alguns minutos e marcamos para jantarmos no dia seguinte.
Cheguei primeiro e pedir uma garrafa de vinho, depois de uns 20 minutos ela chegou e estava linda, com um vestido branco, conversamos e ficamos trocando elogios ela me falou sobre a vida dela e sobre algo de ainda ter esperança e eu falei um pouco sobre minha descrença na humanidade. Acredito que ela não se interessou na conversa, ela estava com outros objetivos...fomos para o meu apartamento como sempre estava extremamente desorganizado , com inúmeros livros em diversas partes da casa. Logo de cara ela ficou admirada com a quantidade e diversidade de livros, perguntou se eu  havia lido todos aqueles livros  e  foliou alguns. Coloquei no som, a velha e confortável Janis e ficamos ali namorando curtindo o clima havias algumas latinhas de cerveja boa e gelada, na verdade em meu apartamento sempre há cerveja para os momentos bons e momentos difíceis, o clima estava perfeito, a cerveja ajudou a lubrificar as idéias e o papo fluiu... Fomos para o quarto e transamos a noite toda ao som da Janis... 
O sol era forte, ele sempre é forte nessa cidade, seja inverno ou verão , era um sábado e não fui trabalhar, o telefone estava tocando o que me fez despertar de um sono calmo e tranqüilo. Acordei me lembrando da noite e logo percebe que Ana Maria não estava na cama, do lado da cama havia um bilhete que dizia:
_ Bom dia! Ontem foi uma noite maravilhosa, mais tarde te ligo. P S: peguei um livro emprestado seu.  Ass. Ana.
 O telefone ainda tocava levantei e quando fui pega-lo já havia desligado.
O dia havia chegado à metade e no começo da tarde, meu celular toca e é ela Ana Maria , perguntando com foi o dia e me contando sobre o seu, perguntei qual foi o livro que ela havia pego e ela disse Desobediência Civil –Henry David Thoreau, eu disse : tudo ok! Contanto que depois poderíamos conversar sobre o livro ...
O relacionamento foi caminhando, visitei a casa dela algumas vezes e ela continuava a pegar meus livros, já tínhamos Seis meses juntos, entre idas e vindas e livros emprestados.
Percebe que Ana já não ia para as reuniões do partido político do qual ela fazia parte, começava a fazer algumas criticas mais duras e pediu para sair do cargo que ocupava. Agora a sua prioridade era sempre os livros e mais livros, passou a admirar Shoupenhauer, Kafka, Camus etc...
Seus amigos já estavam bastante preocupados, pois ela tinha pouco contato n com eles, já os chamavam de tolos e perdidos. Nossos diálogos estavam ficando muito mais elaborados e ela continuava muito boa na cama tínhamos um bom entrosamento. Eu não me interferia naquela mudança que ela estava passando, apenas observava e sempre que ela pedia alguma orientação eu a dava mais com bastante receio e prudência. Ela gostava bastante de um escritor americano chamado Charles Bukowisky que particularmente eu admirava bastante pela sua acidez verdade e vida.
Ela que antes escrevia textos de cunho políticos, agora vive escrevendo contos  existencialistas e que retratam as diversas peculiaridades que estão nas nossas vidas.
Numa bela manha de inverno, como sempre acordo e encontro este bilhete juntamente com a chaves  e alguns livros que ela havia pego em minha mão. O texto dizia mais ou menos assim:

Meu Querido e amado Artur
“A noite traz as angústias, os medos, à lágrima impedida de cair durante todos os dias... O ser humano é frágil, fraco, submetido e como sempre nós tolos,  temos a mania de grandeza, acreditando piamente que somos um pouquinho mais daquilo que imaginamos. Na verdade meu caro amado somos obrigados cotidianamente a sermos forte, aparentemente, fortes. Temos sempre que sorrir, demonstrar felicidade como vermes na carniça. Temos regras, milimetricamente calculadas, programadas. Não pretendo passar o resto de minha vida acreditando que sou um mero joguete da vontade ... Escrita de dor de sangue de verdade e vida, a vida de todo dia, do catador de latinhas, do limpador de latrinas, do gerente de um banco, Eu, Você ... todos vivendo atolados até o pescoço  numa privada e acreditando num por vir melhor....
Um dia ainda fujo, mudo de nome e escrevo a minha historia com o meu lápis.
Obrigado por tudo que me fez (e olha que você não tem idéia de o quanto), sou muito medrosa para te dizer adeus e tola demais por não te beijar pelo menos uma única vez. “
A pessoa que sempre te amará... Ana Maria!

Li a carta, Por um momento vacilei e quis chorar, entendi o que estava acontecendo e excluir ela de meus contatos.

Enzo de marco